O Alexandre nasceu em Almada há 29 anos. Como a dicção já lhe é difícil, ele utiliza a escrita, e eu peço-lhe que às palavras junte desenhos que ilustrem a sua infância e adolescência.

Ao lado do ano do seu nascimento ele desenha uma maca. “Fui levado de ambulância para o hospital – fui operado à minha coluna, tinha a coluna toda torta.” Segue-se o desenho de uma bicicleta, uma baliza, uma tabela de basket… “A minha escola era ao pé da SFUAP e eu fazia muito desporto. Mas sonhava ser veterinário ou fadista.”
Perdeu o andar aos 19 anos, altura em que passou a utilizar a cadeira de rodas, e começou a sua vida com a Cercisa. Passa o dia no centro do Miratejo, entre atividades lúdico-pedagógicas, e a meio da tarde a carrinha leva-o de regresso à Residência no Seixal. “Desde os 19 anos que namoro com a Ana Patrícia, que também está lá.”
Ele envolve a caneta com força entre o indicador e o polegar, já tem uma marca, um vinco na pele. Quando adivinho o que vai escrever pelas primeiras letras, adianto-me a dizê-lo e os olhos dele parecem brilhar pelo diálogo. Quando me estico a arriscar respostas, ele estende a mão dizendo-me para esperar. Ele já lá chega, só precisa de tempo.





