Papelaria Justino – Feijó

A família chega a Almada vinda do Algarve. Abrem ao público primeiro como retrosaria e assim estiveram por um ano, vendendo tecido a metro, botões, linhas, mas a população era pouca, não dava vazão. Como havia escolas nas redondezas decidem alterar para papelaria, que nomeiam como “Papelaria Justino” pelo nome do chefe de família que fica nos comandos. Corre o ano de 1958.

Vendia verniz, perfume e brilhantina avulso – o cliente trazia o seu frasco e com medidor respetivo servia-se, pagando a quantidade que levasse. Vendia tinta estilográfica para canetas recarregáveis a cinco tostões. Vendia cigarros avulso. Vendia jornais como o “Diário de Lisboa” e o “Diário Popular”, e revistas como a “Flama” e a “Crónica Feminina”. Tinha montras com livros em segunda mão: as pessoas levavam um livro e traziam outro, pagando cinco ou dez tostões. O público feminino preferia os romances, os rapazes escolhiam a banda desenhada e as histórias de cowboys.

A papelaria diferenciou-se ainda pela venda de livros escolares, não havia nas redondezas. Ainda garota, Anália e a mãe apanhavam o cacilheiro para ir a Lisboa comprá-los. Traziam-nos atados com um cordel e punham-lhes um resguardo por cima para os preservar. Anália recorda fazer este percurso com chuva forte, tentando proteger os livros, e elas encharcadas. Chegadas à papelaria, fim da tarde, encontravam filas de gente esperando os livros.

A estação dos correios mais próxima era na Cova da Piedade de modo que vendiam ainda selos e bilhetes-postais. O senhor Justino escrevia as cartas às pessoas que não o sabiam fazer. Se a correspondência transportava valores, lacrava-as, e sobre o lacre rubro a pressão do sinete com as iniciais de Justino.